segunda-feira, 9 de setembro de 2013

Breaking Point



Era um dia normal, voltava do trampo as 17 e pouco da tarde, transito em horário de pico ou seja, aquele inferno todo. Estava em um ônibus lotado com muitas crianças que voltavam da escola, bebes chorando e velhos fedidos, isso sempre me lembrava do porque eu odiava ser pobre e morar nessa cidadezinha medíocre.
Em pé eu não tinha muito a fazer, apenas ser empurrado por pessoas escrotas e as empurrar de volta. Recordo-me que naquele dia eu vestia meu "uniforme" ocasional, calça skinny azul, allstars clássico de cor vermelha, um boné falsificado da marca Oakley (engraçado que não ligo para marcas e coisas do tipo, mas o símbolo dessa companhia é bem conhecido, que não é fácil esquecer, assim como Nike, Adidas e afins), uma camiseta de um anti-herói qualquer e pendura na gola havia meus óculos de grau, velho e riscado e pendurado em meus ombros estava a minha mochila, ultima vez que vesti algo decente.
Lhe pergunto uma coisa, qual é a chance de encontrar novamente o desgraçado que já te assaltou uma vez? Eis que aquele humano medíocre sobe sorrateiramente pela porta dos fundos com um sorrisinho na cara (De quem se achava o tal). Ele como um ser humano de pior espécie possível tinha vestimentas de um vagabundo total, vestia um short folgado e sujo de uma marca qualquer, afinal não sou estilista para conhecer modelos e marcas, uma camiseta também suja e provavelmente fedida do Flamengo, um boné de tricô do Flamengo que atrás  estava escrito "Deus Sempre", isso me faz rir até hoje, afinal como levar a serio um bandido com boné de tricô?
Enfim, fiquei encarando o desgraçado ao longo do percurso do ônibus e por mais que o veículo estivesse lotado, ele ficava indo pra lá e pra cá, só de olho nos pertences dos passageiros e em um momento ele notou que eu estava o observando, e por um momento todos os buracos do meu corpo  fecharam com uma parcela de medo, mas foi algo instantaneamente rápido e logo me tranquilizei, ainda mais quando ele me deu um sorrisinho lateral, estranhei, mas continuei observando ele, como uma pessoa assiste um Animal Planet ou até mesmo como um Leão observa aquela zebra deliciosa tomando água na beira do rio. Após uns minutos, reparei que ele se focava em uma linda e morena garota que estava sentada próxima a ele, sabia que ela seria seu alvo, mas fiquei quieto observando, até que o ônibus chegava a um ponto em frente a uma padaria, o vagabundo estendeu suas duas mãos, uma foi de encontro a bolsa da vitima que se encontrava em seu colo, já a outra mão, ele enfiou de uma maneira tão satisfatória no seios da morena por dentro da blusa, ele o apertou, a garota tomou um choque tremendo por esses dois atos repentino e desmaiou, todos olharam para o que acontecia. Eu me encontrava sorrindo olhando para a cena, parecia algo doentio, mas não era exatamente pelo ato abusivo do desgraçado, mas sim que em mim eu sentia algo, uma coisa que nunca havia sentido antes.
Assim que o bandido tira as mãos da vitima, pega a bolsa e parte para correr e saltar do ônibus, me pego correndo, empurrando as pessoas no ônibus e assim quando o desgraçado pisava no chão, pulo em cima dele. Eu não sou um cara pequeno e para minha sorte, ele não era grande, na boa eu sou bem maior que ele e minha gordura no qual eu não tenho orgulho, ajuda bastante para o impacto e a caída no chão e minha vantagem diante dele, mas até aquele momento eu nunca tinha presenciado minha força. A bolsa da mulher voa uns 2 metros de distancia e jogo a minha mochila perto da bolsa dela, estou em cima do desgraçado e ele de costas para mim tentando se levantar, agarro sua cabeça e dou uma batida no chão, ele fica tonto. Neste momento olho para traz e vejo que o ônibus não deu partida, as pessoas estão olhando assustadas e algumas gritando, sem contar a molecada dentro do ônibus vibrando por ver uma briga, afinal que jovem não aprecia ver desgraça alheia não é?
Viro-o e continuo em cima do otário,começo então socar ele com meus dois punhos e rapidamente minha mão se suja de sangue, começo a rir histericamente enquanto faço uma plástica na cara dele, era uma sensação tão boa, meu coração batia a mil e eu poderia ter um 'treco' mas não parava, me sentia impiedoso e poderoso. Pessoas gritavam para eu parar acredito eu, mas tudo era um zumbido no meu ouvido, não dei nem tempo pro desgraçado ver quem pulou em cima dele e quem mandou ele pra cova, apenas continuei o meu trabalho, o trabalho que eu sinto que deveria ser com a maioria das desgraças no planeta, o verdadeiro trabalho de Deus, mandar para a sarjeta as pessoas ruins mas afinal o que eu estava me tornando ali, não me importava por que eu estava apreciando o momento, um momento que jamais terei de novo.
Sua camiseta estava toda manchada de sangue de porco, afinal ele não passava disso e acredito que se eu não tivesse espancando-o até a morte, ele teria afogado em seu próprio sangue, teria sido engraçado de se ver. Tento tirar o suor da minha face mas acabo manchando minha cara de sangue, e começo a ver luzes piscando na Avenida, luzes azuis e vermelhas. Porra! Era a policia, bem teria sido essa a expressão hoje, mas naquele momento eu nem liguei, em cima do bandido com aquela linda face suja de sangue, eu olhava para os lados e todos olhavam assustados, eu continuava rindo, mas não como antes e lágrimas começaram a escorrer de meus olhos. Os policiais saíram do carro e gritaram para parar o que eu estivesse fazendo, eu não fazia mais nada e então eu fui sair de cima do corpo e me deitar no chão quente, mas como a ocasião não poderia deixar eu fazer isso, um dos policiais atirou sem nem pestanejar enquanto saia de cima do corpo e então eu havia levado um tiro no peito, um pouco embaixo do ombro esquerdo. Minha espantosa força havia sumido e então desmaiei.
Hoje me encontro nessa cela de algum presídio, estou aqui acredito que com minhas contas feito de "pausinhos e rabiscos" no maior estilo filmes de ação com fugas da prisão, a uns 33 dias. Soube que essa historia deu o que falar lá fora e a mídia caiu matando em cima, afinal o que um jovem de 21 anos tinha na cabeça para atacar um bandido daquele jeito e o matar friamente? Mas não o matei friamente, foi bem quente na verdade, estava bem calor no dia e o meu sangue estava borbulhando, só o do vagabundo que não. Então a mídia procurou algum motivo banal pra colocar a culpa, do tipo a camiseta que eu vestia no dia "de um anti-herói qualquer" ou no livro que eu carregava na minha mochila que tinha uma temática sombria de um assassino em uma grande cidade. Afinal tudo tem que ter um simbolismo hoje em dia, mas graças a mídia eu não fui parar em um manicômio e ser tratado como um louco. Não sou louco, apenas tive um dia horrível com um final excelente, as outras pessoas não puderam ver isso, mas eu pude e aqui estou eu vendo finalmente o sol nascer quadrado, me lembro da época do Minecraft, aonde eu dizia "Vou jogar Minecraft e ver o sol nascer quadrado!" só de brincadeira, e cá estou eu, bem que eu poderia ter ido jogar outra coisa...

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